domingo, 5 de janeiro de 2014

O primeiro domingo do novo ano

Fez tudo certo. Tem certeza, dessa vez fez tudo certo.
À meia-noite, múltipla como toda fêmea, pulou as sete ondas de branco, calcinha vermelha e sutiã amarelo, devorou o potinho de lentinha, guardou os caroços de romã e uva. Sempre ficava em dúvida qual era a fruta, este ano resolveu levar as duas.
A praia estava lotada de gente, de cocô e flores. Iemanjá deve ter ficado em dúvida se era oferenda ou desaforo. Foi bem cuidadosa pra não pisar em uma garrafa de Peterlongo jogada na areia. Da latinha de cerveja não conseguiu escapar, mas foi um corte pequeno, nada sério. Ano começando numa quarta era muito mais charmoso, cara de férias mesmo. Tinha conseguido emendar até o sábado quando pegaria o ônibus de volta e chegaria tranqüilamente em casa no domingo. Teve tempo de saborear a primeira quarta, a primeira quinta, a primeira sexta e o primeiro sábado do novo ano como se deve, dando sabor à esperança de mudança, sentindo que a grana esse ano ia pintar mesmo, de verdade, um trabalho melhor iria aparecer e o cara certo, também. Na praia até pintou um lancezinho, uma beijoca mais atrevida, mas perdeu o cara na contagem das ondas. Não era pra ser. Nada de desânimo, afinal estava tudo no começo, momento de virada, coisa e tal, vamos pro novo! Uhú!!!
Choveu pouco na noite que se despedia do velho, nada como nos anos anteriores, deu pra dar uma descarregada nas energias gastas, ganhar um fôlego pra fazer tudo aquilo que deixou para trás no ano que ia embora.
Sentada na poltrona 8 do executivo da São Geraldo, abriu seu caderno de notas e começou a escrever todas as coisas bárbaras que tinham acontecido na viagem e decidiu também anotar o que previa serem os acontecimentos marcantes em 2014. Título em letras enormes SURPREENDA-ME 2014, grifado, estrelinhas ao redor e um sol lindo no topo da página.
Depois de muito chacoalhar, entregou-se ao sono. Sonhar era bom, ajudava a construir realidades.
Faltava pouco para chegar na cidade, os barulhos de ondas já haviam sido substituídos pelos sons de buzinas, freadas e o burburinho confuso dos outros passageiros.
Uma luz intensa a deixa confusa por uns instantes, sorri, pensa no sol que desenhou no caderno, nas previsões que fez e na certeza de que tudo teria sido melhor.

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