domingo, 10 de agosto de 2014

Pé de romã

Ele era um gato. A descrição é bem clichê, mas real.
Alto, corpo esbelto, olhos criminosamente azuis e cabelos brancos.
Cavalheiro. Adorava as mulheres, todas elas. Às vezes, um pouco demais (que o diga sua primeira e única esposa).
Místico. Procurava Deus na mesma proporção que brigava com Ele. Coroinha, espírita, Florais de Bach, radiestesia, Saint Germain, o Livro dos Milagres, mandala, Cabala e candomblé. Sim, passou por todas.
Gourmet restrito. Adorava tudo, desde que fosse pizza de muzzarela (com a borda bem torradinha) e capeleti a bolonhesa. Ou brodo. Cozinha muito bem o que gostava de comer. Não era muito. Até hoje alguns incautos tentam reproduzir sua receita de coquetel de camarão.
Histórias hilárias, outras nem tanto. Foi esfaqueado numa briga de bar, desmaiou após ter socorrido um cachorro que havia aberto a pata numa cerca de arame farpado, socou um "imbecil" (palavra que adorava usar) que impediu a passagem de sua velha mãe pela calçada. Socorreu todas as vítimas de acidentes de carro que aconteciam na porta de sua casa, foi segurança na famosa festa que sua filha deu aos 19 anos, sempre tinha uma palavra de conforto, se achava o máximo jogando tênis ou boliche. Amava seus irmãos e sua mãe.
Mestre em consertar as coisas. Transformando-as, claro. O abajur com lâmpada queimada poderia, com alguns ajustes, transformar-se em lanterna. Ou batedeira.
Quando a filha mais velha foi se casar disse: "Você é quem manda. Vamos para a cerimônia ou pra outro lugar? Se quiser desistir, estou ao seu lado." Apoio incondicional era com ele.
Tinha seus fetiches. Pés femininos em salto agulha. Colecionava fotos e mais fotos. Melhor nem pensar o que fazia com elas...
Era de aquário, mas morreu de câncer. Ficaram as fotos e um pé de romã.


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